Coluna Jura Arruda

O Fio dos batuques

Conversei com Fio José, músico e compositor que acabou de lançar seu primeiro álbum de samba, “Batuques da Cidade”. Veja como foi o processo criativo e a produção.

A primeira vez que ouvi o Fio foi na livraria O Sebo, levou um cavaquinho e deu uma canja durante um encontro de escritores. A partir daí, nos esbarramos em eventos pela cidade, sempre ao som do samba e à luz de seu sorriso acolhedor. Fio nasceu em Santo André, São Paulo, e se mudou para Joinville em 2008. Conversamos sobre seu novo álbum, suas escolhas e sobre como é produzir arte na cidade. 

O sambista Fio José no show apresentado no Quillombo Ribeirão do Cubatão – Foto: Divulgação.

Jura: Quem é Fio José?

Fio: Uma pessoa em constante evolução. Sabedor dos seus pontos fortes e a melhorar. Busco constantemente o aprendizado de diversas formas. Apreciador da vida e do que ela pode nos ensinar até nas pequenas coisas. Um amante da vida que quer viver bem com todos e sonha com um mundo de paz.

Jura: Como a música entrou na sua vida?

Fio: Minha família é muito musical. Minha mãe vivia cantarolando pela casa e meu pai arranhava um violão e me levava para ver os shows dos meus primos de banda sertaneja. Tenho tio e primos que foram músicos profissionais, mas não exercem mais a profissão. Minhas irmãs viviam ouvindo rádio e discos em casa, quando conheci muita coisa boa. Um dia, um amigo apresentou o cavaquinho, gostei e comecei a fazer aulas.

Jura: Como aconteceu sua vinda para Joinville?

Fio: Meu amigo Fernando Nascimento, um dos antigos proprietários do Botequim da Frau, me convidou para trabalhar como auxiliar administrativo no bar, quando estava no último período da faculdade de administração. Aceitei o convite e vim morar aqui em 2008.

Jura: Você já disse que há vários métodos para compor. Qual é o que você mais usa?

Fio: Eu gosto de deixar a inspiração me usar. Se estou inspirado, vou e faço, mas se não estou também não tenho pressa. Já fiz muitas músicas e tenho outras a terminar. Hoje confesso que estou um pouco mais parado nas composições. Pra eu fazer uma música preciso ter um bom motivo, algo que me atraia. Deixo o tempo me chamar.

Jura: Fale um pouco sobre o Batuques da Cidade

Fio: É o meu primeiro álbum autoral. Está cheio de músicas legais de autorias minhas e com parceiros. Confesso que não era um sonho como todo mundo pensa. Nunca tive essa pretensão de gravar um disco, o que eu gostava mesmo era de escrever músicas e que, com sorte, alguém gravasse um dia. Gostei muito do resultado. Ele foi gravado no estúdio Aroeira, em Curitiba, em junho de 2024, com direção artística de Ana Paula da Silva e arranjos de Gustavo Moro e Daniel Migliavacca.

O disco está sendo um sucesso no gosto popular e rendeu muitos elogios desde o dia do pré-lançamento no Quilombo Ribeirão do Cubatão.

Jura: Tem uma música que tem um sabor especial para você?

Fio: Sim. Homenagem à Velha Guarda da Portela, de minha autoria. Ela nasceu depois de um dia em que vi pela primeira vez a Velha Guarda no Memorial da América Latina, em São Paulo. Foi amor à primeira vista.

Sublime Velha Guarda da Portela / De azul, que nosso Deus abençoou. / Tens e encantos que irradiam / bandeira que a raiz eternizou…

Jura: “Sonhando com João Nogueira” surgiu num sonho? Fale sobre isso.

Fio: Sim, exatamente. Um certo dia tive um sonho com ele, de quem sempre fui muito fã. Foi um encontro tão especial que parecia realidade. O que eu falo na música realmente aconteceu no sonho. Acordei “decepcionado” e anotei tudo o que lembrava. Um tempo depois fiz a música para registrar este momento tão especial, que pra mim com certeza foi um encontro astral.

Sonhei, eu sonhei com João Nogueira, meu amor / Era um sonho tão bonito, que pavor! / Tive medo de acordar…

Jura: Como aconteceu a escolha dos parceiros para o álbum.

A escolha aconteceu pelas músicas primeiramente. Quando estava para fazer o álbum escolhi as que mais me encantavam. Este disco exigia um contexto também, daí pedi para os amigos, que tivessem músicas com relação ao que estava pensando, me enviar. Algumas já tínhamos pronto como As Guias de Um Moa (com João Silva),  outras, como As Benzedeiras (com Serginho Almeida), criei assim que recebi a letra.

Jura: Você optou por trabalhar o samba de raiz com foco na cultura afro-brasileira. Fale um pouco sobre essa escolha.

Fio: Este álbum surgiu de uma situação inusitada, confesso não muito confortável. Meu repertório é repleto de sambas de raiz, música popular brasileira. Um belo dia tocava em um estabelecimento em Joinville e a gerente me falou: “Olha, os clientes pediram que não toque este tipo de música na sexta-feira”. Eu tocava Samba da Benção de Vinícius de Moraes, em que, no final, ele faz saudações aos grandes nomes da música e parceiros e também aos santos de sua devoção dizendo: “Saravá”! Acho que foi esse o motivo. Para não criar confusão ou algo mais negativo que isso, fui inspirado a fazer o disco exaltando todas as belezas que a cultura afro-brasileira traz na sua essência. 

Jura: O SIMDEC – Sistema Municipal de Desenvolvimento pela Cultura – é uma ferramenta importante, mas com ajustes a serem feitos. Como foi pra você todo o processo desde a inscrição até a prestação de contas?

Fio: Foi bastante trabalhoso! (risos). Escrever um projeto com essa finalidade, claro, dá bastante trabalho, até porque ele foi feito desde o início por mim mesmo, até a parte final que é a prestação de contas. Sem contar que no meio do caminho tinha uma viagem para a Europa com o grupo Mistura Brasileira, o que me deixou um tanto aflito. O projeto durou em torno de dez meses no total a contar do início das gravações. Mas tive uma ótima equipe por trás que me deu apoio e fez acontecer.

Jura: Todo artista que termina um projeto já tem outros em vista. Quais os próximos?

Fio: Por enquanto vou seguir trabalhando, sem um projeto em vista, até porque este deu bastante trabalho. Preciso descansar o corpo e a mente. Assim como fazer música, gosto de deixar a inspiração chegar. Vamos aguardá-la.

Jura: Quando você volta ao palco? Pode passar a agenda das próximas apresentações?

Fio: Claro! Minha agenda está assim para este mês de Julho:

05/07 – Deck 20 – São Francisco do Sul (Voz e Violão)

10/07 – Bar do Ivan – Joinville (Roda de Samba)

15/07 – Botequim da Frau – Joinville (Roda de Samba)

17/07 – Vila Guanabara – Joinville (Voz e Violão)

19/07 – Botequim da Frau – Joinville (Roda de Samba)

26/07 – Feijoada Bera Samba – Joinville (Roda de Samba)

31/07 – Bar do Ivan – Joinville (Roda de Samba)

Carnaval

Caiu no samba, subiu na vida, acordou na quarta.

Jura Arruda

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Uma resposta

  1. Muito obrigado Jura Arruda pelo trabalho apresentado! Adorei a coluna! Parabéns Folha Metropolitana! Divulgando a matéria!

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