Com apenas 30% de cobertura de esgoto, o município enfrenta desafios para alcançar a universalização do saneamento
São Francisco do Sul, SC – O saneamento básico é um dos pilares da saúde pública e do desenvolvimento sustentável, mas ainda há muita desinformação em torno do tema. Em São Francisco do Sul, os desafios para a universalização do saneamento são enormes, mas os avanços são igualmente importantes. Nesta reportagem, apresentamos a realidade do saneamento básico na cidade, seus desafios e os benefícios que sua universalização pode trazer para a comunidade e o meio ambiente.
A situação atual: infraestrutura e cobertura
Atualmente, cerca de 30% da população de São Francisco do Sul é atendida pelo sistema de esgoto. A cidade possui mais de 150 km de redes implantadas e mais de 10 mil ligações, atendidas pela moderna Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) Ubatuba. Segundo Vilmar Pereira da Silva Júnior, gerente de operações da Águas de São Francisco do Sul, “a ETE Ubatuba tem capacidade para tratar mais de 11 milhões de litros de esgoto por dia, utilizando a tecnologia de lodos ativados com aeração prolongada, que remove mais de 95% da carga orgânica”. Ele destaca que essa tecnologia é “uma das melhores aplicadas no país”.
Apesar dos avanços, a meta de universalização ainda está distante, prevista para 2033. “A expansão da rede de esgotamento sanitário exige elaboração de estudos precisos, licenciamentos ambientais e soluções de engenharia inovadoras”, explica Silva Júnior.
Consequências da falta de saneamento
A ausência de cobertura total de saneamento básico gera impactos significativos, tanto para a saúde da população quanto para o meio ambiente. Segundo o Instituto Trata Brasil, Santa Catarina despejou o equivalente a 295 piscinas olímpicas de esgoto sem tratamento por dia em 2021. Em cidades costeiras como São Francisco do Sul, a poluição gerada pelo esgoto sem tratamento afeta diretamente a balneabilidade das praias. “O esgoto bruto possui poluentes que deterioram a qualidade da água, contribuindo para a proliferação de doenças e afetando o turismo, especialmente durante a alta temporada”, ressalta Silva Júnior.
Um morador do bairro Rocio Grande, que preferiu não se identificar, compartilhou sua visão sobre o impacto ambiental e social dessa questão: “A falta de tratamento adequado de esgoto afeta sim a qualidade de vida, tanto no conforto das pessoas por causa do mau cheiro, como no lazer, porque se em certos bairros não existe um saneamento de qualidade, o mar é afetado, logo o mar fica impróprio para banho”. Ele também apontou que “muitos dos nossos alimentos vêm do mar… que alimento é esse que está alimentando a comunidade, que pode estar afetando a vida das pessoas, a saúde, principalmente as mais marginalizadas, que sofrem com privações?”.
Além disso, a contaminação dos corpos d’água pode gerar um aumento de doenças transmitidas pela água, como cólera e hepatite A, afetando principalmente as populações mais vulneráveis (Instituto Trata Brasil).
Os benefícios da universalização
Universalizar o saneamento básico é mais do que uma necessidade de saúde pública; é um investimento com retornos econômicos e sociais significativos. De acordo com o Instituto Trata Brasil, a universalização do saneamento em Santa Catarina até 2040 pode gerar cerca de R$ 14,8 bilhões em benefícios econômicos e sociais. Vilmar Pereira da Silva Júnior reforça essa perspectiva ao afirmar que “quanto mais avançamos na implantação do sistema de esgoto, melhores são os indicadores de educação, saúde e valorização imobiliária. O saneamento traz um retorno direto na qualidade de vida da população”.
Os benefícios são vastos e incluem o fomento ao turismo, a preservação ambiental e a criação de empregos locais. Além disso, o estudo aponta que para cada R$ 1,00 investido em saneamento, o retorno econômico pode chegar a R$ 5,70 no longo prazo (Instituto Trata Brasil).

Os desafios da expansão
Embora os benefícios sejam claros, os desafios para expandir o sistema de esgoto são grandes. Vilmar explica que “a implantação do sistema requer, além de infraestrutura, um esforço técnico e financeiro significativo para superar as barreiras geográficas e ambientais da região”. Além disso, a conscientização da população é outro fator crucial. Um morador de Rocio Grande comentou: “Eu não me sinto muito bem informado, a prefeitura tem feito um trabalho de divulgação, mas acredito que falta assertividade na comunicação. Poderia ser mais claro o que foi feito em cada localidade”.
Vilmar explica que, muitas vezes, a taxa de esgoto é vista como um custo adicional, sem a devida compreensão dos benefícios que ela traz para a saúde e o meio ambiente.
O caminho para a universalização
O município tem trabalhado em novas obras para expandir a rede de saneamento e modernizar a ETE Ubatuba. Segundo Vilmar, “as obras de esgotamento sanitário estão a pleno vapor, com a construção de novas elevatórias, implantação de redes e a ampliação da estação de tratamento. A previsão é atingir a universalização até 2033”. Essa expansão será crucial para melhorar a qualidade de vida na cidade, proteger o meio ambiente e impulsionar o desenvolvimento econômico, especialmente no setor turístico.
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