Concerto raro em Joinville : Obra icônica de John Cage será aresentada no 6º Pianístico

‘Sonatas e Interlúdios Para Piano Preparado’ está na programação do Festival e será executada integralmente (dia 22 de setembro) pelas pianistas do Paraná Lilian Nakahodo e Grace Torres. 

Entre as atrações do 6º Pianístico de Joinville a programação traz um concerto raro, ‘Sonatas e Interlúdios Para Piano Preparado’, de John Cage. A revolucionária obra do compositor norte-americano será apresentada na íntegra pelas pianistas do Paraná:Grace Torres e Lilian Nakahodo, no dia 22 de setembro, às 17h, na Escola Bolshoi (Av. José Vieira, 315 – América).

        Parafusos (de diferentes tipos e tamanhos), porcas, pedaços de plástico e borracha colocados entre as cordas de um piano de cauda fazem parte da complexa preparação para a execução do concerto com duração de 60 minutos. A direção musical é da pianista e professora Vera Di Domênico.

        Composta entre 1946 e 1948 com 16 sonatas e 4 interlúdios, a obra raramente é executada na íntegra em público. Grace e Lilian, integrantes do Coletivo Pianovero, foram as primeiras e únicas pianistas da América do Sul a gravarem a composição por inteiro, ao vivo. O feito inédito das brasileiras com o álbum ‘Preparado em Curitiba – John Cage: Sonatas e Interlúdios para Piano Preparado’ foi lançado em janeiro de 2012, na 30ª Oficina de Música de Curitiba e no mês seguinte em Darmstadt, na Alemanha, no evento ‘Tage für Neue Musik’. De lá para cá o duo fez diversas apresentações no Brasil.

       A obra, uma das mais representativas do repertório erudito do século XX, revela a identificação de Cage com o pensamento indiano e dialoga com sonoridades das orquestras de gamelão da Indonésia.

          A preparação do piano, que demora de duas a três horas para ficar pronto conforme as precisas indicações feitas por Cage, as quais chamou de ‘bula’, no caderno das partituras impressas da obra, é o grande desafio do trabalho. O autor especificou não só o material a ser utilizado, de acordo com a característica de cada tecla, mas a localização e a distância entre elas e os objetos. “Pode não parecer, mas tudo é feito com muita técnica. As partituras foram escritas de forma tradicional. Não há nada de improviso, os fundamentos são muito sólidos”, conta a diretora.

 Concerto em Darmstadt - 342 foto Anderson Sutherland.jpg

A preparação é feita com a inclusão cuidadosa e calculada de parafusos, porcas, pedaços de plástico 

e borracha em um piano de cauda.  Foto: Anderson Sutherland

         Ao todo, 45 notas são preparadas para o ciclo de Sonatas e Interlúdios e diferentes métodos são usados para modificar o som original do instrumento. A inserção de diferentes objetos em suas cordas resulta em sonoridades inimagináveis.

       “Existe ainda muito preconceito com a obra, pois muitos acham que a preparação agride o piano, pelo contrário, o acaricia. O resultado são sons assimétricos, porém delicados e sensíveis que lembram uma exótica orquestra de percussão”, explica Grace.

        Parte do estudo, realizado no período de um ano pelas pianistas, foi feito em um piano convencional. Para poderem estudar em um piano de cauda preparado e criar uma relação auditiva com a composição tal como ela é, elas contam que foi preciso alugar um instrumento durante vários meses para que pudessem executar a obra.

          Considerada como uma das melhores realizações de Cage, o objetivo da obra é expressar os nove estados emocionais, experimentados por qualquer ser humano, de acordo com a tradição hindu, conhecidos como rasa, são eles: o heróico, o erótico, o maravilhoso, o cômico, o patético, o furioso, o terrível, o abominável e a tranquilidade.

        “Algumas notas soam como piano, outras não. A composição se encaixa perfeitamente nesta sonoridade. Tem muito respiro, muito silêncio. Os sentidos ficam aguçados, ouvimos o entorno, o tecido da nossa roupa, os ruídos das cadeiras, da plateia, insetos, tosses, pigarros. O mesmo acontece com o público. Alguns podem sentir até mesmo um desconforto porque não estão acostumados ou não esperam por isso em um concerto de piano”, avisa Lilian.

          Entre os dias 29 de setembro e 27 de outubro, as pianistas estarão em turnê pelo Brasil, passando pelo Rio de Janeiro (RJ), Uberlândia (MG), Porto Alegre (RS), São Paulo (SP) e Curitiba (PR).

Sobre John Cage (1912-1992) foi compositor, teórico musical experimentalista, escritor, multiartista. Investigador incansável, foi pioneiro da música de acaso ou aleatória, da música eletrônica, do uso de instrumentos não convencionais, bem como do uso não convencional de instrumentos convencionais. Considerado uma das figuras chave nas vanguardas artísticas do pós-guerra, contribuiu de forma decisiva para o desenvolvimento estético da música no século XX abrindo caminhos para outros compositores eruditos experimentarem sonoridades variadas. Sua obra mais conhecida é 4’33” (1952), peça precursora da arte conceitual por não executar uma única nota musical, ao apresentá-la os músicos não tocam nada, ficam quietos diante do instrumento durante o tempo especificado no título.

Suas maiores influências vêm da Ásia, estudou filosofia indiana e zen budismo nos anos 40.  O I Ching, texto clássico chinês, foi uma importante ferramenta de composição para ele.

Influenciou muitos artistas de todo o mundo e integrou o movimento Fluxus, que abrigava artistas plásticos e músicos.

Sobre as Pianistas:

Grace Torres

Curitibana, compositora, produtora e Mestre em Música (UFPR). Integra o Coletivo Pianovero e o Fato, grupo autoral com 9 álbuns e shows pelo Brasil e exterior. Atuou como pianista em montagens como a “Ópera dos Três Vinténs”; com Lilian Nakahodo gravou ao vivo e fez concertos pelo Brasil com as “Sonatas e Interlúdios para Piano Preparado”, de John Cage (2012-2016). Como compositora, criou trilhas premiadas para dança, teatro e audiovisual.

Lilian Nakao Nakahodo

Piracicabana radicada em Curitiba, graduada em Produção Sonora e Mestre em Música (UFPR). Pianista, compositora, produtora e editora de áudio, integra o Coletivo Pianovero e o Sons Nikkei, projeto de fusão musical Brasil-Japão. Ao lado de Grace Torres e Vera Di Domênico, realizou a 1ª gravação integral na América Latina, ao vivo, das “Sonatas e Interlúdios para Piano Preparado”, de John Cage, além de concertos pelo Brasil (2012-2016).  Em 2022 lançou um EP com composições próprias para piano preparado.

Sobre a Diretora Musical:


Vera Di Domênico


Pianista, professora e idealizadora de projetos pianísticos. Diretora e curadora do Coletivo Pianovero. Graduada em Música e Piano na UFRJ, FAPARTE/SP, Escola Superior de Música de Viena, e em Música Contemporânea para Piano (Stuttgart). Foi diretora dos Auditórios do MASP e coordenadora de música da FASM/SP. Criou e dirigiu dezenas de projetos pianísticos, como o “Preparado em Curitiba: John Cage – Sonatas e Interlúdios para Piano Preparado”, com gravação ao vivo, concertos e workshops (2012-2016).

Sobre o Coletivo Pianovero

Desde 2018 cria projetos pianísticos a partir de Curitiba. São solistas, professores, estudantes e amadores que, sob direção de Vera Di Domênico, realizaram: VEXATIONS, de Eric Satie, performance com 24h de duração; “De Sons e Terras Distantes: a música de Gurdjieff e De Hartmann para piano” na Capela Santa Maria, na Oficina de Música de Curitiba e no Auditório do MASP. Na pandemia, 2 concertos online com 28 pianistas de 7 países, a “Gurdjieff Music Experience”:  https://shre.ink/ajIn

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A diferença entre a literatura e o jornalismo é que o jornalismo é ilegível e a literatura não é lida… Oscar Wilde

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