A menina, a mulher e anciã
A padaria ficava depois da curva, alguns metros depois de casa. Fui atraído pelo cheiro de pão assando, pedi alguns e fui para o caixa. Uma menina me atendeu. Perguntei se o nome da padaria era uma homenagem a ela. “Sim, eu sou a Ana Paula, mas meu sonho mesmo é cantar. Um dia vou ser cantora”.
Hoje ela é uma das principais referências da música catarinense, com uma carreira premiada no Brasil e internacionalmente.
Às vezes, tomamos café e celebramos a vida com outros pães e o mesmo carinho.
Agora, aquela menina tem uma menina, a Clara, juntas estão trabalhando num novo álbum, “A menina, a mulher e a anciã”, com algumas músicas que eu já tive o privilégio de ouvir e sair arrebatado.
Shows estão agendados para agosto e a produção, que tem parceria também do Coletivo Pedra Redonda, de Porto Alegre, está na reta final, em fase de mixagem, masterização e designer gráfico. O projeto é independente e as meninas tiveram a ideia de oferecer uma rifa para angariar os fundos necessários para a conclusão do álbum.
Ana mora atualmente em Florianópolis, mas habita ouvidos sensíveis mundo afora.

Jura que é bom?
O livro começou a ser trabalhado em uma oficina com Gabriel García Márquez, em 2006. A ideia nasceu de uma situação inusitada que chegou à escritora Socorro Acioli: na cidade de Caridade, sertão cearense, há uma estátua de Santo Antônio de Pádua inacabada. O corpo reside em um morro, mas a cabeça habita o chão, pois nunca foi possível levá-la para o alto, por um erro de projeto. A ideia de escrever sobre isso foi levada ao escritor colombiano que aprovou.
O livro foi lançado em 2014 e se tornou um sucesso. Eu terminei de ler no domingo e já estou ansioso para ler “Oração para desaparecer”, que título, não! Sobre “A cabeça do santo”, é daqueles livros que convidam a virar a próxima página, a caminhar ao lado de Samuel em busca de respostas. Mas vai além, ao trazer temas que nos afetam diariamente, de corrupção, apedrejamento e poder. Tudo envolvido em uma aura de mistério e com leve sotaque nordestino.
Socorro estará na Feira do Livro de Joinville, no dia 2 de junho, uma segunda-feira.

Frio no estômago
Julinho vinha faceiro pela praça trazendo amarrado à corda um caranguejo, que ora andava à revelia da corda, para o lado, ora era puxado num golpe rápido do menino. Os velhos do dominó, que ocupavam as tardes nas mesas de cimento da praça riam. Schmidt despachou o doble de sena e perguntou:
– Tem nome esse caranguejo?
– É meu cachorro.
– Ele morde?
– Só xereta.
Todos riram da ligeireza do menino que seguiu rumo à Beira Rio.
– Cadê Jovino? – perguntou um dos velhos – Ele não vem jogar hoje, não?
– A última vez que vi estava conversando com o maluco do Dostoiévski, ontem – comentou Schmidt, ao que Venâncio mudou de assunto.
– E aquele menino atropelado? Alguém sabe dele?
Antes que alguém respondesse, o andarilho da cidade chegou e, avistando o menino com o caranguejo do outro lado da praça, gritou:
– Será que estou cego? São animais? São vegetais eucaristianos? – em seguida, vendo Schmidt, gritou – Hei, senhor das tréguas!
– Some daqui, seu mundice!
Mais adiante, na pequena rua que dá para a Beira Rio, Julinho passava diante da sapataria de Genival e sentiu um frio no estômago. Correu de volta para a praça, com o caranguejo voando atrás de si e contou, ofegante, ter visto um par de sapatos saindo sozinho de lá.
(Conto de um novo livro em trabalho)
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Folha Metropolitana
A diferença entre a literatura e o jornalismo é que o jornalismo é ilegível e a literatura não é lida… Oscar Wilde
Um comentário
Ah, que viagem ler vc!
Abril apressado por aqui, vamos acompanhando o movimento das folhas.