Coluna Jura Arruda

Sons no cemitério

Há 24 anos, sons ecoam entre os jazigos de imigrantes europeus no alto da rua XV de Novembro para celebrar a música, a cultura e a vida. Parece estranho? Talvez, no início, quando a Sociedade Cultural Alemã lançou a ideia dos Domingos Musicais na Casa da Memória, anexa ao Cemitério do Imigrante de Joinville. “Alguns acharam que seria uma blasfêmia”, comentou Carlos Adauto Virmond Vieira, que representou a Sociedade no evento que aconteceu no último domingo.

Sob tendas, em cadeiras e bancos, e no morro que abriga supulcros, dezenas de pessoas apreciaram o jazz do Quarteto Revoada em sua primeira apresentação que, ao som de guitarra (Judson Dinali), baixo (Michel Falcão), acordeon (Alex Reimann) e bateria (Cadu Floriani), apresentaram composições próprias, como “Insônia” e “Clarinha” e finalizaram com “Incompatibilidade de Gênios”, de Aldir Blanc e João Bosco.

Os Domingos Musicais chegaram à sua 221a edição neste domingo, 9 de março, quando também comemorou 24 anos de atividade. Sempre nas manhãs de domingo, o que é um motivo e tanto para sair de casa e ir ao cemitério.

As fotos de Peninha

Peninha Machado é artista e um dos mais importantes nome do fotojornalismo joinvilense. Seu olhar sensível já registrou através de suas câmeras momentos históricos, fatos jornalísticos e muita poesia visual.

Em um encontro com uma de suas tias, Peninha se deparou com documentos que ela havia trazido de uma viagem à República Tcheca. Eram pinturas sobre a região de Joinville no Século 19, de autoria do artista Paul Kuscha, e uma propaganda em alemão sobre a colonização da cidade. Os documentos estavam em posse do pintor Alois Hañs, irmão de seu bisavô. A avó pensou em doar os documentos, mas Peninha foi rápido: “Deixa eu fotografar antes, tia. Depois a senhora doa”.

As fotos, agora, compõem a exposição “As Colônias Alemãs no Norte de Santa Catarina (Região Sul do Brasil)”, que fica aberta para visitação até o dia 25 de março, na Casa da Memória, na rua XV de Novembro, 1000.

(Com a colaboração de Cláudia Morriesen)

Memória da arquitetura

Outra exposição que traz um pouco da história local é a exposição “Memória da arquitetura de Joinville”, uma coleção de registros fotográficos, com abertura no dia 15 de março às 10 horas no Espaço Cultural Ritzmann e vai até 2 de maio, com visitação de segunda a sexta, das 14 às 17 horas.

O Espaço Cultural Ritzmann fica na rua Anita Garibaldi, 1787, agendamento pelo telefone (47) 99741-5638.

Post Scriptum

A viagem foi longa, mas acabou. Deita teu corpo no solo, colo que te acolheu, tu não migras mais. Talvez teu nome para uma placa de rua. Talvez nem isso. Mas no registro do cemitério há de estar. E em livros históricos também, feito dado estatístico, estático na infame história da migração humana à procura de um canto. Eu, vivo, olho-te de cima: mera questão geográfica. E é possível que não enxergue no retrato esmaecido dentro do vidro oval nenhuma ruga ou lágrima de tua vida; nas letras de teu nome nenhuma ação nobre ou dívida não paga, mas hei de respeitar os sete palmos que a ti pertencem, ainda que, sumidouro, a cova tenha-te misturado com a terra. Olho para os lados. sinto que não estou só. E isto não é sentimento comum a quem teme a morte? Quanto de ti há neste arbusto eu me observa? Quero, hoje, saber de ti, pois lamento tuas dores e celebro tua coragem. Qual o devir de teu batismo, querido imigrante desvivo? Quanta vida esperou viver aquele nome grafado no documento da empresa colonizadora de Hamburgo? Quanta esperança carregou nos intermináveis dias de viagem ao novo mundo? Quanto desejou estar aqui, diante de mim, observado no topo da Rua Quinze?

Tu havias pensado em virar Ponto turístico? Pois viraste! Viver é tão subjetivo, não é?

(Texto publicado inicialmente na revista Diversidade, que circulou em Joinville pelas mãos do incansável Alexandre Setter).

Jura Arruda

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Jura Arruda

Colunista