O jornal Folha Metropolitana dá continuidade à sua série de reportagens com entrevistas aos candidatos à prefeitura de Joinville para as eleições de 2024. Esta iniciativa visa proporcionar aos eleitores uma visão abrangente das propostas e experiências de cada candidato, ajudando a formar uma escolha mais consciente e informada. Nesta quarta entrevista da série, conversamos com Rodrigo Meyer Bornholdt, advogado e ex-vice-prefeito de Joinville.
Rodrigo Bornholdt, natural de Joinville e com 52 anos, é graduado em Direito e doutor em Direito das Relações Sociais pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Com uma trajetória política que inclui mandatos como vice-prefeito e candidaturas à prefeitura e à Assembleia Legislativa, Bornholdt apresenta-se novamente como candidato em 2024. Filiado ao Partido Socialista Brasileiro (PSB), ele busca trazer novas soluções para os desafios de Joinville, destacando sua experiência anterior e sua formação jurídica como diferenciais em sua proposta para a cidade.
Confira a seguir a entrevista completa:
Folha Metropolitana: Rodrigo, você foi vice-prefeito de Joinville de 2005 a 2008 e já concorreu à prefeitura em 2008 e 2016. O que motivou você a se candidatar novamente em 2024, e o que mudou em sua visão para a cidade desde suas últimas candidaturas?
Rodrigo Bornholdt: Algumas situações me motivaram a concorrer novamente. Primeiro, uma gestão deficiente da cidade, que não entrega ações consistentes em áreas essenciais para a vida das pessoas, como saúde, educação, mobilidade e criação de áreas de lazer. Além disso, Joinville não exerce a liderança e o protagonismo que naturalmente lhe cabem. Finalmente, vi a ausência de uma oposição consistente à atual gestão, que representasse uma visão democrática, aberta e plural em Joinville.
Entendo que, de 2008 pra cá, houve uma mudança em algumas das demandas da cidade. Algumas delas permanecem atuais, como questões na área de saúde, educação e lazer. E outras merecem aperfeiçoamento, como a questão do saneamento básico. Mas a maior das mudanças é na percepção e na reação social numa sociedade digitalizada.
FM: Como advogado e doutor em Direito, de que maneira sua formação jurídica influencia sua forma de fazer política e suas propostas para Joinville?
RB: Minha formação maior é justamente nessa área pública. No direito constitucional e administrativo, que têm relação direta com a gestão pública. Ela me permite antever situações e formular soluções a partir da moldura constitucional existente. Um prefeito, hoje em dia, precisa saber dialogar com outras instituições além do Poder Legislativo. Me refiro ao Ministério Público e ao Poder Judiciário. Consigo fazer isso com mais facilidade que os outros.
Sabemos que a formação jurídica não é um requisito para o exercício da função, mas isso verdadeiramente me ajuda. Como já me ajudou quando fui vice-prefeito e presidente da Fundação Cultural.
FM: Joinville é a maior cidade de Santa Catarina e tem grande relevância econômica no estado. Como você avalia o impacto de suas experiências como vice-prefeito e candidato a deputado no entendimento das necessidades da cidade?
RB: Minhas experiências no Executivo foram mais importantes do que a candidatura a deputado. E é importante lembrar que tive três momentos: como procurador-geral no governo LHS; e como vice-prefeito e presidente da Fundação Cultural de 2005 a 2008. Ali consegui entender bem o funcionamento da máquina pública. Hoje em dia, entendo que as novas tecnologias trazem facilidades que antes não tínhamos. As pessoas conseguem produzir mais em menos tempo, com mais acesso à informação. E dessa forma quero tornar Joinville mais eficiente, comandando processos em várias áreas. Em especial na saúde, queremos um aplicativo moderno, integrado e funcional, facilitando o acesso das pessoas a especialistas e diminuindo o tempo de espera para consultas.
Quem é do meio político sabe que tive, na figura de LHS, um grande mentor. Ao mesmo tempo, entendo que não podemos ficar presos ao passado. As demandas se atualizam, a gestão pública se moderniza, a própria arte da política ganha novos contornos e instrumentos. Mas uma coisa se mantém: Joinville precisa ser protagonista. E ao Prefeito cabe liderar esse processo. Não vejo isso hoje em dia, em nossa cidade. Joinville virou apenas uma força econômica no norte do Estado. Estamos perdendo relevância política. E perdendo até nosso protagonismo em termos econômico-financeiros, como na questão do retorno do ICMS. Muitas indústrias estão deixando Joinville ou buscando artifícios para não pagar seus tributos aqui. Alguns deles são legítimos; outros, não. O prefeito precisa monitorar e liderar também esse processo de atração e permanência de empresas na cidade.
FM: Mobilidade urbana é um dos principais problemas de Joinville, com trânsito intenso e transporte público insuficiente. Quais são suas propostas para melhorar o transporte público, a mobilidade e a infraestrutura viária?
RB: Não entendo a morosidade e a falta de integração de Joinville nesses processos envolvendo a mobilidade urbana. Na minha visão, falta uma integração maior entre um corpo técnico especializado, de carreira, que a Prefeitura já possui, e soluções criativas que atualizem as demandas da cidade. É verdade que muito do Plano Diretor de 1973 ainda não foi concluído. Mas também ele precisa ser atualizado. Vou dar só um exemplo: teremos, finalmente, a Ponte Joinville, que está levando cerca de quatorze anos para se tornar realidade. Pra que ela realmente faça sentido, precisamos retomar a concepção do Eixo Ecológico Leste. O transporte coletivo precisa voltar à ideia de efetiva integração urbana, com a retomada de linhas e concepções abandonadas durante a pandemia. Isso não significa prejudicar quem tem carro, mas tornar o transporte coletivo mais atrativo. Para isso, retomo, uma vez mais, a ideia de modais alternativas, como o VLT e o BRT.
FM: O saneamento básico, especialmente o tratamento de esgoto, ainda é um desafio significativo em Joinville. Quais são seus planos para expandir o saneamento e garantir acesso universal ao tratamento de esgoto na cidade?
RB: São duas ideias que se complementam, mas que também funcionam isoladamente. A primeira é dar prioridade à busca de financiamentos, com a urgência que esse tema merece. Saneamento é uma questão de saúde pública, não pode ser executado de modo tão lento. E a segunda é tornar o joinvilense parte da Companhia Águas de Joinville. Quero permitir que os cidadãos daqui também possam injetar recursos na companhia, que continuará a ter predomínio de capital público. Para isso, precisamos ter regras de governança bem definidas.
FM: Durante períodos de chuva, algumas regiões de Joinville sofrem com alagamentos. Como você pretende enfrentar o problema de drenagem urbana e melhorar a infraestrutura para evitar enchentes?
RB: Vou retomar as obras do Mathias, com o menor dano possível aos afetados. Temos agora também recursos federais para a drenagem do Rio Jaguarão. Já estou em contato com empresas para um amplo programa de despoluição e de desassoreamento das bacias hidrográficas de Joinville. Queremos também iniciar estudos para a construção de diques em determinados locais da cidade.
FM: Joinville tem um potencial turístico e cultural enorme, mas ainda enfrenta desafios para explorar plenamente esse setor. Como você pretende impulsionar o turismo na cidade, especialmente em eventos como o Festival de Dança e outras atrações culturais?
RB: Temos dois nichos importantes a serem explorados. O turismo rural e o turismo de negócios, com o incremento de feiras e eventos. No turismo rural, há uma série de potencialidades a serem exploradas, de modo sustentável, na Vila Nova e em Pirabeiraba. O próprio joinvilense encontra ali um refúgio de bem estar. Além disso, penso que a chave para incrementarmos o turismo em Joinville passa por uma articulação com vários municípios da região, de modo que o turista possa se hospedar em Joinville por alguns dias e conhecer as belezas de Joinville e de toda a região. Por exemplo: as cachoeiras de Corupá, o Monte Crista em Garuva, as praias de São Francisco do Sul. O Norte do Estado também tem suas potencialidades.
FM: A cidade de Joinville cresceu de forma acelerada, mas muitas áreas sofrem com a falta de planejamento urbano adequado. Quais são suas propostas para garantir que o desenvolvimento futuro da cidade seja mais planejado e sustentável?
RB: Quero conversar com todas as forças ativas da cidade. Quero ouvi-los e ajudar Joinville a encontrar seu rumo. Há pontos que precisam ser destacados: sustentabilidade e melhor mobilidade. Me preocupo com a expansão desenfreada das áreas urbanas, que podem tirar o santuário rural que ainda temos aqui. E precisamos também pensar, novamente, na integração com cidades vizinhas, em especial, com Araquari.
FM: Na área de saúde, a crescente demanda por serviços públicos tem sobrecarregado o sistema. Quais são suas propostas para melhorar o atendimento nos postos de saúde e hospitais, garantindo mais agilidade e eficiência?
RB: Pensamos em dar ainda mais racionalidade e eficiência ao SUS. Chamamos isso de plano público de saúde, permitindo maior agilidade na consulta com especialistas. Um dos grandes meios para desafogar o sistema é a digitalização inteligente das demandas, através da criação do aplicativo Conecta Joinville, que vamos criar. Por lá, o paciente, o cidadão conseguirá ser direcionado para unidades que estão menos congestionadas. Isso equilibrará filas, por vezes, muito concentradas em alguns locais ao mesmo tempo em que preencherá possíveis agendas ociosas em outros postos.
FM: Joinville tem uma forte vocação industrial, mas enfrenta o desafio de diversificar sua economia e atrair novos investimentos. Quais são suas estratégias para fomentar o desenvolvimento econômico, especialmente em setores como tecnologia e inovação, e criar mais oportunidades de emprego na cidade?
RB: Esse é um ponto central de nosso projeto para a cidade. Temos muitas iniciativas interessantes na área da inovação, mas entendo que o município deve agir como indutor desse desenvolvimento. Florianópolis gerou, em pouco tempo, 80 mil empregos com melhor remuneração nessa área. Joinville está longe disso ainda. Por isso queremos trazer pra cá uma aceleradora de start ups, que tem um papel um pouco diferente de uma incubadora. A aceleradora, como o próprio nome diz, incrementa, agiliza e facilita a injeção de capital nessas pequenas empresas, além de monitorar e dar suporte a seus estágios de desenvolvimento. Conversei detalhadamente com o Pompeo Scola sobre isso (o vídeo está disponível em nosso YouTube) e sugiro que assistam a essa nossa conversa. Queremos, além disso, fomentar setores sustentáveis e de boa geração de renda, como o setor náutico e de saúde.
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A diferença entre a literatura e o jornalismo é que o jornalismo é ilegível e a literatura não é lida… Oscar Wilde