O jornal Folha Metropolitana dá sequência à sua série de reportagens com entrevistas dos candidatos à prefeitura de Joinville nas eleições de 2024. A proposta é oferecer aos eleitores um panorama completo das ideias e soluções que cada concorrente apresenta para a cidade, promovendo uma decisão mais informada. Ao longo da série, todos os candidatos terão a oportunidade de discutir suas propostas, realizar um balanço de suas trajetórias e comentar os desafios futuros de Joinville.
Carlito Merss, ex-prefeito de Joinville e economista, é o segundo entrevistado desta série. Ele já governou a cidade entre 2009 e 2012 e tem uma longa carreira na política, incluindo mandatos como vereador e deputado federal. Com uma atuação em áreas como mobilidade urbana e saneamento básico, Carlito busca retornar ao cargo com propostas voltadas para o desenvolvimento econômico sustentável e melhorias nos serviços públicos.
Além de sua experiência na gestão pública, Carlito também enfatiza o aprendizado adquirido ao longo dos anos e as mudanças que acredita serem necessárias para enfrentar os desafios atuais da cidade. Na entrevista a seguir, ele compartilha sua visão para o futuro de Joinville, discutindo como sua experiência pode contribuir para uma nova fase de desenvolvimento.
Confira a seguir a entrevista completa:
Folha Metropolitana: Carlito, ao longo de sua carreira, você foi vereador, deputado estadual, deputado federal e prefeito de Joinville. Como essas diferentes experiências moldaram sua visão para a cidade e influenciam sua candidatura em 2024?
Carlito Merss: Costumo brincar que nasci em Porto União, mas dediquei a minha vida a Joinville. Em cada cargo público que ocupei tentei, no final das contas, servir à cidade da melhor forma. Nunca me preocupei se o prefeito e os meus colegas eram do meu partido ou adversários políticos. Meu objetivo era conseguir recursos e melhorias para a vida das pessoas. Esse tempo todo me permitiu ver o potencial de Joinville e, principalmente como prefeito, dar a minha parcela de contribuição para o desenvolvimento da cidade. Infelizmente, de uma década para cá senti que Joinville parou no tempo. Começou a pensar pequeno e a sumir do cenário nacional e internacional. Vivemos um momento global decisivo e o nosso município precisa participar dessa transformação.
FM: Durante sua gestão como prefeito (2009-2012), quais foram as principais realizações que você destaca e como pretende dar continuidade a esses projetos, caso seja eleito novamente?
CM: Com muita humildade, digo que avançamos em muitas áreas. É inegável que, na área do saneamento, promovemos uma verdadeira revolução. Nem a própria prefeitura tratava seus dejetos. Ainda no saneamento, acabamos com a falta de água na cidade. Com a construção de cinco escolas, colocamos fim ao turno intermediário. Na saúde, criamos UBS decisivas para o desafogo do atendimento e, no São José, implementamos melhorias tecnológicas importantes. Já na cultura e no lazer, construímos o Parque das Águas, o Parque da Cidade, o Calçadão do Batalhão, o Calçadão do Mirante, entre outros. Na mobilidade, abrimos a Timbó, enfrentamos a resistência para estabelecer os corredores de ônibus. Enfim, foram muitos avanços que, por mais que tentem esconder, são obras nossas e ainda hoje usufruídas pelos joinvilenses.
FM: Como você avalia a evolução do apoio ao Partido dos Trabalhadores (PT) em Joinville e Santa Catarina desde que foi o deputado federal mais votado em 2002? O que mudou desde então?
CM: Creio que o apoio ainda permanece presente. É claro que a onda extremista que tomou conta da política não apenas local, mas nacional, e que, de alguma forma, visa destruir a própria ideia da política, colocou parte da opinião pública contra o partido. Aos poucos, contudo, vejo que estamos retomando, em Santa Catarina e em Joinville, a verdadeira memória do que o PT já fez, e ainda faz, pelo país. A vitória do presidente Lula é parte dessa recuperação. Os índices atuais comprovam que o país retoma o seu rumo. Joinville é uma cidade diversa e plural. Tomar o eleitor joinvilense como conservador ou bolsonarista é redutor. De minha parte, estou muito feliz com a coligação que construímos. Nunca tive tantos partidos ao meu lado.
FM: Joinville vive hoje um cenário político mais favorável a partidos de direita. Como você planeja atrair eleitores em um ambiente onde o Partido dos Trabalhadores enfrenta maior resistência?
CM: Não há outro jeito. É falar a verdade para as pessoas. Mostrar o trabalho que realizamos como prefeito. Está aí o “Foi o Carlito que Fez”, que já corre pela cidade. É resgatar o nosso legado sem deixar de olhar para o futuro. Em âmbito nacional, é apresentar o que o governo Lula tem feito pelo país e por Joinville. O governo federal já enviou mais dinheiro para a cidade do que o governo anterior em quatro anos. Muitos programas sociais do governo Lula beneficiam milhares de joinvilenses. O PT governa para as pessoas.
FM: Mobilidade urbana é uma das grandes preocupações dos joinvilenses, com congestionamentos constantes e uma infraestrutura que não acompanhou o crescimento da frota de veículos. Como você pretende melhorar o transporte público e viário na cidade?
CM: Quero propor um sistema de trânsito inteligente, eficaz e seguro. Não temos saída: precisamos pensar em alternativas ao carro. O primeiro passo será licitar o transporte público. Uma cidade do tamanho de Joinville não pode ser esse exemplo negativo ao país. Com a licitação, poderemos melhorar a qualidade do serviço, aumentar as linhas, integrar os ônibus elétricos já indicados pelo governo federal, aumentar as ciclovias, etc. A partir daí, quero começar com tarifa gratuita aos domingos e, até o final do meu mandato, evoluir para a tarifa zero. Muitas cidades de porte já provaram que é possível.
FM: O tratamento de esgoto em Joinville ainda é limitado, impactando tanto a saúde pública quanto o meio ambiente. Quais são suas propostas para expandir a cobertura de saneamento básico e garantir um tratamento mais eficiente do esgoto?
CM: Vamos tirar do papel a macrodrenagem do Rio Jaguarão. Consegui convencer o Ministério das Cidades a liberar 205 milhões para Joinville. É urgente resolver a questão dosalagamentos na região central. No saneamento, no meu primeiro governo tirei a cobertura de tratamento de esgoto de 12% e levei para 32%. Passou 12 anos e meus sucessores fizeram mais 10%, se muito. Esse tema é sério e deve ser levado como prioridade. Dizem que não dá voto. Eu quero levar a cobertura de saneamento de Joinville a 70%.
FM: Joinville enfrenta sérios problemas de alagamentos em períodos de chuva intensa. O que você propõe para melhorar o sistema de drenagem urbana e reduzir o impacto das enchentes, especialmente nas áreas mais vulneráveis?
CM: Como já disse, vamos fazer a macrodrenagem do Jaraguão. As pessoas não tem ideia do trabalho que foi conseguir esses recursos junto ao governo federal. Hoje, a nota de investimento de Joinville é C. A cidade apresenta sérias dificuldade de atrair investimentos nacionais e internacionais, que são a base das grandes obras. Vamos implantar áreas alagáveis dentro de parques já existentes ou a serem criados nas partes baixas, minimizando os problemas de alagamento. Depois do que ocorreu em Porto Alegre, pretendo criar um Plano de Ação Climática para prevenção, mitigação, contingência e adaptação ante as mudanças climáticas causadoras de enchentes e altas temperaturas. Com os governos estadual e federal, vamos avançar na limpeza e dragagem do Rio Cachoeira.
FM: O crescimento urbano de Joinville tem ocorrido de forma desordenada em algumas áreas. Como sua gestão planeja enfrentar o desafio de garantir um desenvolvimento urbano mais planejado e sustentável?
CM: Em primeiro lugar, investir em políticas de promoção da regularização fundiária e da assistência técnica pública e gratuita para obras de habitação de interesse social, articuladas com a gestão e visão inteligente do espaço urbano integrado. Além disso, adotar no planejamento territorial do município uma visão integrada das políticas de recurso hídricos, do saneamento básico e ambiental, de forma articulada com a gestão eficiente dos resíduos sólidos, com especial atenção para ações futuras em relação às mudanças e emergências climáticas. Meu candidato a vice, o professor Mario Dutra, é bastante atento a este pensamento sustentável e ecológico. Temos conosco uma equipe com pensamento moderno. Joinville precisa se preparar para as mudanças que estão por vir.
FM: O sistema de saúde em Joinville tem sofrido com a demanda crescente. Quais são suas propostas para melhorar o atendimento nos postos de saúde e hospitais, diminuindo as filas e agilizando os serviços?
CM: Sobre esse tema, é importante deixar claro de partida: nós não vamos privatizar o São José. O Zequinha é um patrimônio da cidade. Se o prefeito briga com o governador, vira as costas ao presidente, enfim, é um problema sério, mas nosso governo irá valorizar o SJ e seus servidores. Quero, finalmente, dar ao povo da Vila Nova a UPA Oeste. Lembro que deixei o terreno e o dinheiro em caixa, mas meu sucessor devolveu. Vamos fazer essa obra ainda no primeiro semestre do mandato. Além disso, tenho o sonho, e já comuniquei ao presidente Lula, de levantar um Hospital Universitário em Joinville. O curso de Medicina da UFSC está chegando, a hora é muito oportuna.
FM: O turismo cultural tem um grande potencial em Joinville, especialmente com eventos como o Festival de Dança. O que você propõe para fortalecer o setor turístico e incentivar a economia da cidade por meio da cultura?
CM: Queremos dar à cultura a importância que ela merece. Isso vale para a economia e vale para o respeito e a valorização das artes e da cultura popular. Vamos reestruturar a Fundação Cultural de Joinville como gestora do Sistema Municipal de Cultura e do Sistema Municipal de Desenvolvimento pela Cultura (SIMDEC), assim como implementar o Programa Municipal de formação e as políticas de acessibilidade cultural. Nossa ideia é desburocratizar o SIMDEC, descentralizar a Casa da Cultura, abrir, finalmente, o CEU do Floresta, e fortalecer o nosso Carnaval. Joinville ama cultura. Os eventos que a cidade já tem provam que, se os espaços estiverem abertos e a população puder acessar, será bom para todos. Mas é preciso sempre lembrar que isso deve valer para todo cidadão, principalmente para o que vive nos mais bairros afastados.
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A diferença entre a literatura e o jornalismo é que o jornalismo é ilegível e a literatura não é lida… Oscar Wilde