Hepatite Infantil Misteriosa e Varíola dos Macacos podem virar pandemias?

Leandro Schmitz

jornalismo@folhametropolitana.com

 

Você já deve ter ouvido falar em algum lugar sobre a Hepatite Infantil Misteriosa e a Varíola dos Macacos. A primeira começou a aparecer em outubro do ano passado, nos Estados Unidos. No dia 15 de abril deste ano, a OMS (Organização Mundial da Saúde) emitiu um alerta sobre o surto desta doença desconhecida em diversos países, sobretudo Reino Unido e Estados Unidos, totalizando 22 países. 

E os primeiros casos suspeitos já foram registrados no Brasil, totalizando mais de 70, incluindo cidades próximas a Joinville, como Itajaí.  

Já a segunda doença é mais antiga, havia sido erradicada do país há mais de 50 anos. Porém, o que intriga os cientistas é esta variante, que tem o nome popular “Varíola dos Macacos”, mas não é transmitida por eles. Também chamada de “Monkeypox Vírus”, ela é uma doença causada pelo vírus “Orthopoxvirus”, que afeta roedores. Os macacos acabaram levando a fama por serem os hospedeiros, da mesma forma como tem acontecido entre os humanos. Até o fechamento desta reportagem, três casos haviam sido confirmados no Brasil, dois no estado de São Paulo e um no Rio Grande do Sul. 

O Ministério da Saúde investiga pelo menos cinco casos suspeitos. Fora da África já foram registrados mais de 700 casos no mundo. 

 

Contágio

 

Enquanto a Hepatite Infantil Misteriosa atinge crianças e adolescentes, a Varíola dos Macacos parece não escolher suas vítimas. Ainda não se sabe as causas e transmissibilidade dos casos hepáticos, mas no caso da Varíola, a transmissão ocorre por gotículas de saliva e contato físico.  A recomendação dos especialistas é o uso de máscaras e distanciamento das pessoas infectadas ou de casos suspeitos.  

De acordo com o biomédico, Lucas Zanandrez, existe um risco, porém baixo, de a Varíola dos Macacos virar uma pandemia, porém não tão rápido e letal quanto foi o Coronavírus, que matou mais de 6 milhões de pessoas no mundo todo nos últimos dois anos. Isto porque o vírus desta doença é transmitido de forma mais lenta.

Já a Hepatite Infantil Misteriosa ainda intriga a comunidade médica, pois não há relação direta com qualquer outro vírus comum da Hepatite, nem com os imunizantes contra a Covid-19, porque nenhum dos casos relatados havia recebido qualquer vacina do gênero. 

 

Um vírus conhecido na África

 

A chamada Varíola dos Macacos surgiu na África, em 1958, especificamente na República Democrática do Congo, em epidemias ocasionais. Desde 2016, os casos foram registrados também em outros países africanos, como Serra Leoa, Libéria, República Centro-Africana e Nigéria, que sofreu um surto recente desta doença.

Em 2003, houve uma epidemia nos Estados Unidos, com 35 casos confirmados, 13 prováveis e 22 suspeitos em seis estados, mas sem registros de mortes. O fato deste vírus migrar da África para Europa e outros países da América ainda não foi esclarecido, mas há algumas suspeitas iniciais: a interrupção da vacina contra a Varíola na década de 1980 e a mutação do vírus que passou do animal para humano e vice-versa. 

 De acordo com José David Urbaez Brito, médico infectologista, presidente da Sociedade de Infectologia do Distrito Federal, e consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia, os sintomas iniciais se parecem muito com gripe e resfriado: dor de cabeça, febre, cansaço e dores musculares. De um a cinco dias após o aparecimento da febre, surgem erupções cutâneas na pele, que coçam e soltam pus. 

Em casos mais recentes da doença, as erupções cutâneas atingem apenas uma parte específica do corpo (genitais); em outros, espalham-se por todo o corpo. “É preciso ter em mente a diferença entre a Varíola Humana, erradicada em 1980 por meio de vacinas, e a Varíola dos Macacos. A primeira realmente teve grandes proporções, ocasionando a morte de cerca de 30% dos infectados; já a segunda parece ter sintomas mais leves e ser menos contagiosa”, explica.  

 

Uma Hepatite diferente

 

Embora tenha os mesmos sintomas das Hepatites A, B, C e D (inflamação do fígado causada por uma infecção viral), a Hepatite Infantil Misteriosa parece afetar somente crianças e adolescentes, levando alguns pacientes ao estado fulminante, ou seja, obrigando a um transplante de fígado com urgência sob o risco de morte. 

Segundo a OMS, já foram registrados mais de 430 casos suspeitos da doença no mundo todo, sendo nove deles na Europa. Houve seis mortes e 26 crianças precisaram de um transplante. Nestes casos é necessário uso de medicamentos durante toda a vida para evitar a rejeição do novo órgão.

No Brasil, o Ministério da Saúde investiga mais de 70 casos suspeitos da doença. Em Santa Catarina já são três casos suspeitos: um menino de três anos, morador de São José, na Grande Florianópolis; um adolescente de 16 anos de Balneário Camboriú; e uma menina de sete anos de Itajaí. Todos tiveram náuseas, vômitos, olhos e peles amarelados, diarréia, dor abdominal e inflamação no fígado. 

O adolescente de 16 anos relatou ainda apresentar urina escura. Os pacientes não precisaram fazer transplante, foram medicados e apresentaram melhora em seus quadros clínicos. Os casos estão sendo acompanhados pelas Secretarias Municipais de Saúde e pela Diretoria de Vigilância Epidemiológica (Dive).

O que intriga a comunidade científica são os resultados negativos para as hepatites existentes em todos os casos apresentados. Também não há relação entre as vacinas contra a Covid-19, tendo em vista que nenhum paciente havia sido imunizado até então. Porém, parte das crianças e adolescentes foram diagnosticados com Coronavírus anteriormente. 

A sequela da doença é uma das hipóteses que estão sendo levantadas para descobrir o agente causador deste tipo de Hepatite. Outra hipótese investigada é a ação de um Adenovírus, uma espécie de vírus comum em doenças respiratórias, que teria sofrido mutação.  

Kevin Banruque
Editor

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